Brasília é mais verde

A cidade parque de Lucio Costa e Oscar Niemeyer continua sendo uma das mais arborizadas. E as vantagens de viver entre o verde são muitas. Dos benefícios à saúde, ao controle da temperatura média da cidade, da estética ímpar ao acesso a diversas espécies frutíferas públicas, Brasília é um convite a desfrutar a natureza.

O verde permeia toda a cidade. Assim o arquiteto Matheus Seco descreve na campanha do casapark a presença das árvores no Plano Piloto. E assim o planejou Lucio Costa: cada Superquadra emoldurada por uma larga faixa de árvores, suas copas se encontrando e formando abrigo. Tornar realidade o projeto do urbanista não aconteceu sem entraves e dificuldades. Mas hoje Brasília é uma das cidades mais arborizadas do país. São cerca de 5 milhões de árvores no Distrito Federal e 50 km² de gramados no Plano Piloto.

No começo de Brasília, a tentativa foi de formar a área verde de Brasília com espécies vegetais comuns em outras regiões brasileiras. Seja por falta de conhecimento sobre as espécies locais, seja pela vontade de criar uma identidade visual que remetesse a outras capitais do Brasil, fato é que a escolha por uso de plantas exógenas ao Cerrado trouxe diversos problemas. Em alguns casos, a necessidade de uso extensivo de água causou desperdício. Em outros, as plantas não se adaptaram e logo morreram.

Com a preferência pelo plantio de árvores nativas, a partir dos anos 1970, a paisagem de Brasília se transformou. Hoje o Distrito Federal conta com cerca de 160 espécies de árvores e palmeiras, além de arbustos, ervas e flores. “Os preceitos de uma cidade jardim, com as quadras separadas e os blocos residenciais emoldurados por uma faixa verde de árvores, fez da cidade de Brasília única e expressiva com a sensação bucólica e de imensa massa verde paisagística que faz a cidade ser admirada por todos que a visitam”, descreve o chefe do Departamento de Parques e Jardins da Novacap, Raimundo Silva.

Há uma pergunta importante aqui: quais são, afinal, as vantagens de uma cidade mais verde? Hoje sabemos muito mais do que em 1957, quando o projeto de Brasília foi lançado. Mas desde aquela época, a visão de Lucio Costa sobre a importância da arborização era clara. Para ele, além de resguardar as Superquadras e oferecer aos moradores extensões sombreadas para passeio e lazer, a grande quantidade de árvores proporciona um elo entre as áreas residenciais e as áreas monumentais, dos edifícios cívicos.

Mas as vantagens não são apenas de caráter urbanístico. As plantas não só produzem oxigênio, mas também liberam água na atmosfera, o que é especialmente importante para o clima sazonalmente seco do Planalto Central. Áreas verdes também ajudam a moderar a temperatura e facilitam a drenagem de água das chuvas. Além disso, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, acesso a espaços verdes pode reduzir as desigualdades de saúde, melhorar o bem-estar e ajudar no tratamento de doenças. Pesquisas sugerem que atividade física em um ambiente natural pode ajudar a remediar casos leves de depressão e reduzir os sintomas físicos causados pelo estresse.

Mapeando árvores frutíferas

Um aplicativo nascido em Brasília em 2016 e inspirado pela arborização da cidade, o Fruit Map oferece um mapa interativo dos pés de frutas espalhados pela cidade. O projeto dos desenvolvedores Adarley Grando, Vinícius Magalhães, e Fábio Rezende deu tão certo que há pessoas do mundo todo baixando o app, que hoje tem árvores marcadas nos cinco continentes.

Vinícius Magalhães nos conta mais sobre o projeto:

Como se deu a ideia para o Fruit Map?

O Fruit Map foi elaborado com a ideia de reaproximar as pessoas e a natureza, mesmo que elas estejam na correria de grandes e agitadas cidades. A ideia é que pessoas comuns cadastrem e mapeiem árvores frutíferas públicas e hortas comunitárias no mundo todo, se juntando a uma imensa legião de usuários do aplicativo acessado por smartphones em todos os continentes.

Conte-nos um pouco sobre o processo de desenvolvimento.

O Fruit Map foi criado em junho de 2015 por 3 estudantes universitários e em 2019 completou seus 4 anos. Primeiro foi lançado a versão para iPhones e iPads (iOS) e para smartphones Android logo no ano seguinte. Adarley e Fábio são os desenvolvedores capacitados pelo programa da Apple Academy em Brasília e Vinícius, estudante de ciências ambientais, concebeu a ideia por observar que Brasília possui uma diversidade infinita de árvores frutíferas ao seu redor. Hoje o aplicativo conta com mais de 50 mil usuários ao redor do mundo e mais de 60 mil árvores frutíferas e hortas comunitárias cadastradas.

Qual é a sua opinião sobre a arborização de Brasília? O que está certo e o que pode melhorar?

Brasília pode ser considerada uma cidade parque ou um pomar público, isso porque no decorrer da sua existência muitas pessoas plantaram árvores frutíferas por conta própria. Essas iniciativas são excelentes, e inclusive foram uma fonte de inspiração para a criação do aplicativo, mas penso que podemos tornar o meio mais equilibrado, promovendo plantios de espécies frutíferas nativas, além de incentivar o consumo destas. Outro ponto importante é a recuperação de áreas degradadas e áreas urbanas pouco arborizadas, que vai ser o foco do Fruit Map nos próximos anos, educar a população, incentivar o contato com a natureza e o plantio de árvores para a saúde e bem estar social nas áreas urbanas.

O que essa experiência ensinou a vocês sobre o interesse das pessoas pelas áreas verdes, pelas árvores públicas da cidade?

As pessoas se interessam muito quando o assunto são áreas verdes e árvores públicas, mas é notável que há pouco conhecimento da população sobre o quão benéfico pode ser essa relação entre o ser humano e a natureza. Há a necessidade de levar informação para a população, construindo uma narrativa (eco)crítica que dialogue com a realidade local, incentivando ações de conservação e uso racional dos recursos naturais que os cercam. O meio ambiente é um assunto que une toda a população, e o Fruit Map está agindo não só como um aplicativo que mapeia árvores frutíferas, mas também como um instrumento informativo e conscientizador que consegue reunir um público que vai de criança até pessoas de 70 anos de idade.

O Fruit Map está chegando ao seu terceiro ano, certo? Como vocês avaliam a experiência até aqui? O que os surpreendeu nesse processo?

É gratificante ver que, para se conectar no Fruit Map, não existe idade específica, idioma ou localização. O aplicativo foi criado em Brasília, mas hoje em São Paulo temos a maior quantidade de árvores cadastradas e usuários. O aplicativo também está traduzido pro inglês e sem financiar nenhuma divulgação hoje temos árvores cadastradas em todos os continentes! É incrível ver a variedade de frutas que é cadastrada em outros países, frutas como maçã, blueberry, framboesa, pêra, azeitonas mapeadas em países como Canadá, Estados Unidos, China, França e Austrália.

Recebemos emails de usuários do mundo inteiro com sugestões e agradecimentos e, por isso, enxergamos muito potencial no aplicativo, que pode expandir para outros fins, como a promoção de educação ambiental, capacitação da comunidade para manejo sustentável e recuperação de áreas degradadas, disseminando informação sobre o meio ambiente e expandindo o propósito de frutificar o planeta.

Quais são os seus locais com árvores frutíferas preferidos para visitar?

A quadra 316 da Asa Norte tem um arbusto de framboesa, é inesquecível comer framboesa do pé! Além de também ter árvores de abacate, limão, maracujá, jabuticaba e várias outras frutas.

A Universidade de Brasília, entre o ICC e a Reitoria você consegue experimentar caju, jaca, jambo amarelo, cacau e até café.

O parque da cidade está com todas as árvores frutíferas cadastradas, o próprio engenheiro ambiental do parque cadastrou e nos avisou! Lá você encontra vários pés de manga, amora, pitanga, jamelão e outras frutas.

O Eixão Sul e Norte tem árvores frutíferas do cerrado como a cagaita, araticum e pequi.