Centenário de Zanine Caldas – O mestre da madeira

Se estivesse vivo, Zanine Caldas completaria cem anos em 25 de abril de 2019. Para celebrar o centenário desta referência brasileira, o casapark irá, durante todo o ano, homenagear e lembrar um pouco mais sobre a vida e obra deste paisagista, maquetista, escultor, designer e arquiteto brasileiro.

É impossível falar de Zanine Caldas sem associá-lo ao trabalho com a madeira. O arquiteto autodidata é reconhecido mundialmente como um mestre no uso desta matéria prima e uma das grandes referências do mobiliário moderno brasileiro.

Nascido na cidade de Belmonte, na Bahia, em 1919, Zanine, ainda muito jovem, já mostrava a criatividade reutilizando materiais que encontrava em sua própria casa. Filho de um médico, aproveitava caixas de papelão – utilizadas para armazenar seringas – para construir presépios natalinos e presentear os vizinhos.

Defensor da nobreza do trabalho e não do material, começou sua carreira, na década de 1940, como desenhista de uma empresa de engenharia. Seu interesse pelas formas o fez abrir um ateliê de maquetes onde executava projetos para os principais arquitetos brasileiros da época. Ele foi responsável por protótipos de projetos assinados por Oscar Niemeyer, Henrique Mindlin, Lúcio Costa e Oswaldo Arthur Bratke.

Na final da mesma década, após conhecer a madeira compensada fundou a “Móveis Artísticos Z”. A empresa se tornou pioneira pelo formato do negócio: produzia mobiliário em grande escala, com design moderno e preços acessíveis. Isso era possível com uso racional das peças de compensado e bom planejamento do uso das chapas de madeira. Formato que evitava o desperdício do material e reduzia necessidade de mão-de-obra qualificada, fundamental na movelaria artesanal.

A fórmula inovadora, no material e na técnica, ajudou a escrever uma parte importante da história do design no Brasil, tornando a empresa uma das responsáveis pela introdução do móvel moderno na casa dos brasileiros.

Alguns anos depois, após o seu desligamento da “Móveis Artísticos Z”, Zanine explorou outras vertentes da profissão, como projetos paisagísticos e estudos em preservação ambiental e resgate de materiais abandonados.

Mas foi após a mudança para Brasília, em plena construção da Capital Federal, que Zanine executou sua primeira casa e coordenou a construção de tantas outras. Durante alguns anos, a convite de Darcy Ribeiro, lecionou também na Universidade de Brasília como professor de maquetes.

Caldas teve muita dificuldade em trabalhar como arquiteto, já que não tinha o diploma universitário. Chegou a ser impedido pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) de levar adiante a construção de alguns projetos. Mas o domínio da técnica e inovação com materiais fez com que grandes profissionais, como Lúcio Costa, apoiassem seu reconhecimento. Em 1991, recebeu o título de arquiteto honoris causa.

Se no começo de sua carreira, o trabalho de Zanine seguia a lógica industrial, no final da década de 1960 estabeleceu um projeto em Nova Viçosa, na Bahia, que buscava uma forma de produção mais sustententável, reconectando o trabalho às tradições da cultura local. Dedicando-se cada vez mais ao artesanal, explorando a potencialidade das madeiras brasileiras com projetos que respeitavam a topografia do lugar e evitavam o desmatamento. Trazendo para seu trabalho a preocupação com o consumo consciente, muito antes do conceito ser massificado.

Mesmo com a atuação sendo alvo de polêmica em diversos momentos, seu trabalho é reconhecido mundialmente. Na década de 80 suas criações foram expostas no Louvre, em Paris, além de ter atuado como professor de arquitetura em renomadas instituições. Zanine faleceu em 2001, aos 82 anos, após uma longa carreira, deixando uma grande marca no design nacional, especialmente no uso do madeira. Trabalho que até hoje inspira e desperta desejo.

Quer saber mais sobre a história deste grande arquiteto? Assista ao documentário “Zanine, Ser do Arquitetar”. Dirigido por André Horta, o filme mostra a vida, o pensamento e as conquistas de Zanine Caldas. O documentário conta com entrevistas de Oscar Niemeyer, Heloísa Buarque de Holanda, Ziraldo e Alexandre Garcia, além de registros preciosos do trabalho executado pelo arquiteto em Nova Viçosa (BA). A obra está disponível gratuitamente no Youtube